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USO DE COCAÍNA ENTRE JOVENS INSTITUCIONALIZADOS
(especial para SIIC © Derechos reservados)
Autor:
Maristela Ferigolo
Columnista Experto de SIIC

Artículos publicados por Maristela Ferigolo 
Coautores Airton Tetelbon Stein* Helena Maria Tannhauser Barros** 
Dr em Clínica Médica, Porto Alegre, Brasil*
Dra em Psicofarmacologia, Porto Alegre, Brasil**


Recepción del artículo: 2 de noviembre, 2006
Aprobación: 4 de enero, 2007
Conclusión breve
Entre jovens institucionalizados a prevalência do uso experimental de cocaína é alta (54.7%), o consumo é precoce (13 anos) e está associado com demais drogas de abuso. Essas características indicam a necessidade de intervenções eficazes nessa população.

Resumen

Objetivos: Estimar a prevalência do consumo de cocaína entre jovens institucionalizados, descrever o perfil desses usuários comparando-se o gênero e idades de início e regularidade do uso e identificar associação com outras de abuso. Método: Estudo transversal realizado na Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor do Rio Grande do Sul, onde jovens alfabetizados completaram questionário anônimo e auto-aplicável. Análise descritiva e testes ANOVA e qui-quadrado para verificar a relação do uso de cocaína e as variáveis. Resultados: Foram incluídos 378 jovens; 54.7% fizeram uso na vida de cocaína, sendo 59.9% meninos e 72.4% moradores em unidades de infração. Destes usuários, 61.9% usaram cocaína no ano, havendo diferença significativa entre abrigados (83.3%) e infratores (59%); o uso no último mês (36%) e uso pesado (17%), não foi diferente entre os grupos. A média de idade de início de uso foi 13 anos. O uso da cocaína apresentou-se muito associado com o uso de drogas lícitas e ilícitas. Meninos infratores apresentaram mais chance de usar cocaína do que os jovens abrigados; para as meninas ocorreu o oposto. Conclusões: A alta prevalência, idade precoce e uso de cocaína associado com demais drogas de abuso indicam a necessidade de programas de prevenção e intervenções eficazes nessa população.

Palabras clave
cocaína, jovens institucionalizados, abuso de substâncias

Clasificación en siicsalud
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Especialidades
Principal: Toxicología
Relacionadas: Diagnóstico por LaboratorioMedicina InternaMedicina LegalNeurologíaPediatríaSalud MentalSalud Pública

Enviar correspondencia a:
Maristela Ferigolo, Serviço de Informações sobre Substâncias Psicoativas, Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre (FFFCMPA), 90050-170, Porto Alegre, Brasil


Cocaine Use Among Institutionalized Youngsters

Abstract
Objectives: This study aimed to determine the prevalence of cocaine use among institutionalized youngsters; to describe demographic characteristics of the users; to compare gender and age at first use and regular use and to assess the degree of associated use of other illicit and licit drugs. Methods: A cross-sectional study was carried out in the Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor, in Porto Alegre (FEBEM), Southern Brazil. A questionnaire developed by the World Health Organization to determine prevalence off drug use was answered anonymously by a population of literate minors who were in FEBEM because of delinquency or due to social risk. ANOVA and Qui-Square were used to determine the degree of associations between cocaine use and the demographic variables. Results: A total of 378 participants answered the questionnaire. Cocaine was used on an experimental basis by 54.7% youngsters, of whom 59.9% were males and 72.4% were those in detention for delinquency. The mean age of beginning cocaine use was a little under 13 years of age. Of those reporting experimental use of cocaine 61.9% had used the drug in the last year, 36% had used cocaine in the last month and 17% reported heavy use of cocaine. A high association rate between cocaine use and licit drug use was found. Males in detention for delinquency had higher chances of using cocaine than those sheltered for social protection, while for females the association was the reverse. Conclusions: The high prevalence of cocaine use at a very young age and the concomitant use of several other drugs among institutionalized children and adolescents calls for efficient interventions and preventive measures for drug use in this population.


Key words
cocaine, social protection, delinquency, substance abuse, children


USO DE COCAÍNA ENTRE JOVENS INSTITUCIONALIZADOS

(especial para SIIC © Derechos reservados)
Artículo completo
Introdução

O consumo de cocaína, preocupa a comunidade mundial, não apenas pelas conseqüências para a sociedade, mas também para a saúde física e psíquica do usuário.1,2 Um grande número de usuários de cocaína estão envolvidos com atos delinqüentes e, conseqüentemente, correm o risco de serem institucionalizados.2,3 No Brasil, a prevalência de uso na vida de cocaína, em estudo domiciliar nas 107 maiores cidades do país foi estimada em 2.3%, o equivalente a 1 076. 000 de brasileiros.4 Entre crianças e adolescentes que freqüentam a escola observou-se um crescente consumo da droga, de 0.5% em 1987 para 2% a partir de 1997.5,6 Em crianças de rua, o uso de cocaína ao menos uma vez no mês aumentou de 3.4% em 1987 para 8.3% em 2003.7 No entanto, em indivíduos mantidos em ambientes institucionalizados há uma carência de estudos referentes a drogas de ilícitas, devido à dificuldade de assumir o uso, uma vez que o consumo tem implicações legais.8

O abuso de drogas pode motivar atitudes e comportamentos violentos.1,9,10 Além disso, o tráfico de drogas é considerado um vínculo consistente entre violência e drogas, uma vez que o tráfico é um mercado gerador de ações violentas.1,10 Entre adultos infratores há preferência do trafico, em São Paulo, de cocaína e derivados.11 Recentemente, foi identificado que o uso de maconha e de álcool antes e durante a prisão são fortes preditores para o uso de cocaína. Para cada ano a mais na prisão, a chance de usar cocaína aumenta em 13%.12

Em nosso meio, levantamentos mais freqüentes sobre o consumo de drogas entre infratores são de adultos em instituições penais.9,11,12 Menos freqüentes são os estudos com os menores infratores, cuja população é estimada em 2.7 por 100 000 habitantes, alojados em diferentes abrigos de várias cidades brasileiras. O fato da população infratora consumir drogas extensivamente e ser vulnerável às conseqüências relacionadas à violência, incluindo tráfico de entorpecentes9,11,12 aponta a necessidade de pesquisa que forneça informações a respeito do uso de cocaína, relacionada a comportamentos delinqüentes desde a juventude.

O presente estudo teve a finalidade de estimar a prevalência do consumo de cocaína entre crianças e adolescentes já institucionalizados, nas condições de abrigo e de infração. Dentre os objetivos específicos descreve-se o perfil dos usuários de cocaína comparando-se os sexos e idades de início do seu uso, intensidade e regularidade do uso, como também identifica-se o grau de associação ao uso de outras drogas lícitas e ilícitas.


Metodologia

O estudo foi realizado na Fundação Estadual do Bem Estar do Menor do Rio Grande do Sul (FEBEM/RS), atualmente denominada Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (FASE-RS). Utilizou-se uma análise estatística retrospectiva de dados secundários de estudo realizado na FEBEM.13 Todas as crianças e adolescentes institucionalizados com idades entre 10 e 20 anos, alfabetizados, capazes de ler e preencher os questionários foram incluídas (n = 402). Sete adolescentes não participaram: cinco, estavam cumprindo medidas disciplinares e, portanto, sem condições de contato com as demais pessoas, e dois se recusaram a responder o questionário. Excluíram-se vinte questionários, treze com respostas incoerentes e sete que não responderam as questões sobre o uso ou não de cocaína. Entre os indivíduos finalmente estudados, um subgrupo estava cumprindo medidas sócio-educativas nas unidades de infração sem liberdade para saídas (n = 246), e outro estava cumprindo medidas de proteção, morando nas unidades de abrigos e saindo para freqüentar escola ou outras atividades familiares ou sociais (n = 129).

Realizou-se um estudo transversal analítico com a finalidade de estimar a prevalência do consumo de cocaína entre as crianças e adolescentes da FEBEM/RS. Foi utilizado um questionário auto-aplicável sobre o uso de drogas e sua quantificação, desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde14 e adaptado para o Brasil.15

A coleta de dados foi realizada de julho de 1999 até a metade de agosto de 1999 por uma equipe de cinco aplicadores, acadêmicos do curso de Medicina da FFFCMPA, treinados segundo as regras do Manual do Aplicador utilizadas nos levantamentos do CEBRID.7,15 A aplicação dos questionários foi feita coletivamente, em salas de aula da FEBEM-RS por um pesquisador da equipe, na ausência de professores ou monitores da instituição. Os questionários foram recolhidos em envelope pardo. Antes da aplicação dos questionários os indivíduos foram instruídos sobre a natureza voluntária do estudo e lhes foi garantido o sigilo, pelo anonimato. O projeto foi avaliado e aprovado pela Comissão de Pesquisa e Ética da FEBEM/RS.

O teste do qui-quadrado foi usado para avaliar a significância estatística nas comparações entre as variáveis: sexo, freqüência e regularidade do uso, idade de início e associação do uso a outras drogas entre os adolescentes nos abrigos e unidades de infração. O teste de ANOVA seguido de Student Newmann-Keuls foi utilizado para comparar as médias de idade de início de uso. A avaliação da associação entre a variável uso de cocaína e as demais variáveis incluiu o cálculo do teste t, razão de chances (RC) e de seus intervalos de confiança (IC). Os intervalos de confiança calculados foram de 95%. Os valores de p < 0.05 foram considerados como estatisticamente significativos. O programa EPI-INFO, versão 6.0 foi utilizado para estes cálculos.16


Resultados

O estudo incluiu dados de 375 questionários. Os entrevistados referiram ter usado cocaína em diferentes padrões, sendo que 54.7% (n = 205) afirmou ter feito uso pelo menos uma vez na vida (uso experimental). Dos institucionalizados que responderam às questões referentes ao uso no ano, mês e pesado, de 199 (total de indivíduos que responderam as questões sobre o uso no ano, mês e pesado), 61.3% (n = 122) referiu uso no ano (pelo menos uma vez nos doze meses que antecederam a pesquisa); 36% (n = 72) usou no mês e 17% (n = 33) fez uso pesado (vinte ou mais vezes nos trinta dias que antecederam a pesquisa).7,15

Na Tabela 1 estão representadas as razões de chance dos internos nas unidades de infração em relação aos abrigados para o uso de cocaína na vida, no ano, no mês e pesado. Percebe-se que os adolescentes institucionalizados por infração apresentaram mais chances de uso experimental de cocaína, quando comparados aos moradores em abrigos (para proteção social). Para as categorias de uso no ano ou no mês, as chances de consumo mais recente prevaleceram maiores nas unidades de abrigo. As chances de manter o uso no último ano enquanto institucionalizados foi 3.5 vezes maior para os abrigados do que para aqueles que estavam cumprindo medidas sócio-educativas. O mesmo pode ser dito para o uso no mês de cocaína, onde abrigados apresentaram chance 2.5 vezes maior do que os protegidos pela FEBEM para medidas sócio-educativas.







Além disso, em relação ao perfil do usuário identificou-se diferença entre os sexos (Tabela 2). Os meninos refletiram o maior número de moradores nas unidades de infração, por terem cometido mais atos infracionais e também experimentaram mais cocaína. Por outro lado, as meninas, prevaleceram nas moradias de abrigos. As meninas em abrigo experimentaram mais cocaína que as infratoras. Há 26 vezes mais chances de meninos infratores usarem cocaína na vida em relação às meninas infratoras. Para os demais padrões de consumo, no ano e freqüente, não se observaram diferenças entre os sexos (Tabela 1).







Em relação à amostra total da FEBEM observou-se que foi predominantemente masculina (78.4%) e com idades entre 16 e 20 anos (83%). A média de idade dos usuários de cocaína do sexo masculino foi superior (17.1 ± 1.4 anos) ao do sexo feminino (14.9 ± 1.8 anos), bem como dos usuários moradores em casas de infração (17.2 ± 1.4 anos) em relação aos moradores em abrigos (14.9 ± 1.8 anos), havendo mais meninas abrigadas do que infratoras. Quanto a primeira experiência com a cocaína, a média de idade foi aos 13.2 ± 2.4 anos. Um percentual de 30.5% dos entrevistados usaram a droga pela primeira vez antes dos 12 anos de idade e 69.5% a partir dos 13 anos. Não se observou diferença significativa entre meninos (13.3 ± 2.4) e meninas (12.5 ± 2.2 anos) quanto a idade de início do uso de cocaína (RC = 2.05; IC 95% = 0.71-5.84). Em relação às condições de moradia em abrigo ou infração também não se observaram diferenças significativas para o início do uso (RC = 2.18; IC95% = 0.82-5.74). Quando se comparou as médias de idades de início de uso das demais drogas, observou-se que o uso de cocaína foi mais tardio, pois o uso de solventes foi aos 12.8 anos, de maconha aos 12.4 anos e de álcool e tabaco aos 11.7 anos.

O uso de cocaína entre os adolescentes mostrou-se associado positivamente à história de uso de outras drogas, como álcool, tabaco, maconha e solventes, experimentalmente ou mais recentemente. O percentual de usuários de cocaína no último mês foi comparado quanto ao uso de outras drogas, também utilizadas no último mês, conforme as unidades de abrigo e de infração (Figura 1). Os moradores de abrigos apresentaram 2 vezes mais chances de usar cocaína no mês, em comparação com moradores nas unidades de infração (RC = 2.55; 95%IC 1-6.52). Os abrigados relataram ter usado também, mais maconha (RC = 2.59; 95%IC 1.22-5.57) e solventes (RC = 2.46; 95%IC 1.13-5.37). O uso de álcool, apesar de ser maior pelos abrigados, não apresentou diferença significativa (RC = 1.57; 95%IC 0.88-2.8). Ao contrário das demais drogas, o tabaco foi a droga mais utilizado pelos infratores (RC = 2.99; 95%IC 1.47-6.06).







Dentre os entrevistados que utilizaram cocaína por pelo menos uma vez na vida, 77.5% afirmaram já ter utilizado maconha, 78.7% solventes, 66.1% tabaco e 63.7 % álcool. Quando estas drogas foram consideradas fatores de risco para o uso na vida de cocaína, observou-se que usuários de maconha apresentaram maior chance de usar cocaína na vida (75 vezes), seguido dos usuários de álcool, solventes e tabaco (Tabela 3).







Em relação às formas de cocaína utilizadas pela última vez os usuários referiram: a cocaína em pó (61.3%), o crack (16.6%), a pasta de coca (0.6%) e mistura de várias formas (21.5%). Do total de entrevistados, 61.3% afirmaram conhecer alguém que utilizava drogas injetáveis, mas somente 9.4% afirmaram já ter usado cocaína injetável, sendo 3.1% moradores dos abrigos e 12.8% nas unidades de infração (RC = 4.50; IC95% 1.45-15.60).


Discussão

O presente estudo revelou que a prevalência do uso experimental de cocaína entre os institucionalizados da FEBEM/RS é quase o dobro (54.7%) do que foi encontrada em crianças/adolescentes em situação de rua (25%), e mais de 20 vezes do que o registrado pelos estudantes da rede estadual de ensino do Brasil (2%).7,17 O alto índice de usuários na população pesquisada pode dever-se a vários fatores, pois os internos da FEBEM, assim como as crianças de rua, apresentam condições insatisfatórias na vida sendo consideradas de risco para o uso de drogas.18,19 Entretanto, o principal motivo que diferencia as duas populações em relação ao consumo de drogas é o comportamento delinqüente, característico das crianças institucionalizadas, e que conseqüentemente podem ter ocasionado a internação.20 Comportamento delinqüente atrelado à situação de abandono familiar aumenta as chances de início do uso ou continuidade de uso de drogas, que também pode ser perpetuado pela continuação da delinqüência.21

Sabe-se que fatores externos ambientais, sociais, econômicos e culturais influenciam a disponibilidade, o uso inicial, continuado ou mesmo a recaída do uso de cocaína.22 Entre os fatores ambientais destaca-se altas taxas de criminalidade, acesso a locais onde drogas são vendidas ou produzidas, ou onde a delinqüência é comum.7 Estes aspectos são bem conhecidos pelos indivíduos entrevistados e nessa população o aumento do número de fatores de risco aos quais são expostos, aumenta a probabilidade do problema com drogas ser desencadeado. Entretanto, nem todos os indivíduos experienciam os efeitos das substâncias do mesmo modo.22 A literatura descreve a importância dos amigos na influência ao uso de drogas, e conseqüentemente, o uso tem impacto na seleção de novos amigos, por envolverem grupos de pares com as mesmas características.23 Assim, usuários tendem a procurar companheiros que tem a mesma opinião, comportamento e atitudes.24 No entanto, a probabilidade do uso continuar ou ser interrompido parece estar mais ligado à angústia interna, psicopatologias ou infelicidade do que à influência direta dos amigos.25,26 A interação de características individuais como temperamento, predisposição biológica, distúrbios psicológicos, necessidade de novas experiências e emoções resulta em vulnerabilidade para o abuso de drogas.27,28

Os moradores nas unidades de infração experimentaram mais cocaína do que os abrigados; ao contrário, o uso de cocaína no ano e no mês foi mais intenso entre os moradores nos abrigos. Este comportamento pode ser justificado pelo fato da cocaína ser ilícita e de mais difícil acesso aos adolescentes sob regime de internação do que aqueles com liberdade para sair da instituição. Os infratores que experimentaram cocaína provavelmente o fizeram antes de serem levados para a internação na FEBEM. O uso experimental pode estar relacionado a situações cotidianas vividas por esta população de risco, incluindo isolamento social, dificuldade de estabelecimento de vínculos e baixa auto-estima.7 Ou seja, resultado de exclusão social pela falta de oportunidades, de escola, trabalho ou inserção precoce no mercado do tráfico e desestruturação familiar,12 que se originou muito antes da internação. Por outro lado, os moradores em abrigos, têm um acesso facilitado às drogas, pois podem sair das unidades quando desejarem, sendo que alguns freqüentam regularmente escolas ou exercem atividades profissionais e, portanto, podem usar a droga quando lhes for conveniente.13

Apesar do uso de cocaína ou derivados ser ilegal e causar prejuízos importantes em curto tempo,13 nossos resultados confirmam a disponibilidade e o consumo da droga tanto na população institucionalizada em abrigos quanto em casas de infração. Recentemente, Strang et al (2006) refere que a continuidade do uso de drogas nas instituições pode ser influenciada por vários fatores, sendo os mais freqüentes a disponibilidade e fato do indivíduo ter usado a droga antes de sua internação2. Tendo em vista a alta prevalência do consumo de cocaína entre as crianças e adolescentes internos em ambas as unidades, tornam-se necessários estudos específicos sobre seus comportamentos para que intervenções de impacto possam ser introduzidas antes, durante e após o período da institucionalização.2

Verificou-se que o uso inicial da cocaína foi precoce, aos 13 anos de idade, embora tenha se iniciado após as demais drogas. Esses resultados estão de acordo com a teoria de progressão do uso de drogas já descrita na literatura.8,29-31 Entre os jovens americanos, o uso da cocaína, também inicia após o uso de álcool, tabaco ou maconha.20,32 Dados obtidos nos levantamentos nacionais com estudantes demonstram semelhança com a população em estudo, ou seja, o percentual de uso de cocaína aumentou com a idade (30% iniciaram o uso até os 12 anos aumentando para 70% após esta idade.17

O uso de múltiplas drogas tem sido um fenômeno freqüente entre usuários de cocaína.8,33,34 Como também observado nesta população. Existem razões farmacológicas para o uso associado de drogas. A combinação simultânea produz alteração, aumento na intensidade ou na duração do efeito, quando comparado com o uso da cocaína isoladamente.33,34 Tanto a maconha quanto o álcool são utilizados pelos usuários de cocaína com fins de diminuir seus efeitos ansiogênicos, estimulantes ou a insônia.3,33,35

Embora os dados tenham restrições quanto à validade externa foi traçado o perfil dos jovens institucionalizados quanto ao consumo de uma droga ilícita. Ainda, o estudo apresenta limitação referente aos dados auto-relatados, o que pode ter gerado um viés de informação. Os entrevistados também não foram questionados sobre a qualidade do delito por eles praticado, tempo de internação e nível sócio-econômico.

O presente trabalho pode contribuir na estimativa da prevalência do uso de cocaína entre crianças e adolescentes institucionalizados visando o desenvolvimento de programas de prevenção ao uso de drogas e intervenções específicas de impacto que possam ser introduzidas durante e seguidas da internação de forma adequada.
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