siiclogo2c.gif (4671 bytes)
MODULAÇÃO DA SECREÇÃO DO HORMÔNIO DE CRESCIMENTO PELA GHRELINA E OUTROS SECRETAGOGOS
(especial para SIIC © Derechos reservados)
Autor:
Ana-Maria J. Lengyel
Columnista Experto de SIIC

Institución:
Universidade Federal de São Paulo

Artículos publicados por Ana-Maria J. Lengyel 
Coautor Larissa Bianca Paiva Cunha de Sá* 
Pós graduanda, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brasil*


Recepción del artículo: 10 de marzo, 2008
Aprobación: 4 de abril, 2008
Conclusión breve
Apresenta-se uma revisão sobre a ghrelina, os mecanismos de ação e possível papel fisiológico dos secretagogos de hormônio de crescimento e da ghrelina na secreção de hormônio de crescimento e os efeitos da administração endovenosa destes peptideos sobre a secreção de hormônio de crescimento no homem.

Resumen

A secreção de hormônio de crescimento é modulada pelo hormônio liberador de hormônio de crescimento e pela somatostatina. Na ultima década foi descoberto um terceiro mecanismo de controle, envolvendo os secretagogos de hormônio de crescimento. A ghrelina é um peptídeo acilado, descoberto recentemente, que é produzido no estômago, porém também é sintetizado no hipotálamo. Este peptídeo é capaz de liberar hormônio de crescimento, além de aumentar a ingesta alimentar. A ghrelina endógena parece amplificar o padrão básico de secreção de hormônio de crescimento, ampliando a resposta do somatotrófo ao hormônio liberador de hormônio de crescimento. Este peptídeo estimula multiplas vias intracelulares interdependentes no somatotrófo, envolvendo a proteina quinase C, proteina quinase A, e sistemas moduladores de cálcio extracelular. Entretanto, como a liberação de GH induzida pela ghrelina in vivo é mais acentuada que in vitro, seu local de atuação predominante é no hipotálamo. No presente trabalho apresentamos uma revisão sobre a descoberta da ghrelina, os dados existentes sobre os mecanismos de ação e possível papel fisiológico dos secretagogos de hormônio de crescimento e da ghrelina na secreção de hormônio de crescimento e, finalmente, os efeitos da administração endovenosa destes peptideos sobre a secreção de hormônio de crescimento no homem.

Palabras clave
ghrelina, GH, secretagogos do hormônio de crescimento, GHS

Clasificación en siicsalud
Artículos originales> Expertos del Mundo>
página www.siicsalud.com/des/expertos.php/96082

Especialidades
Principal: Endocrinología y Metabolismo
Relacionadas: BioquímicaDiagnóstico por LaboratorioMedicina InternaPediatría

Enviar correspondencia a:
Ana-Maria J. Lengyel, Universidade Federal de São Paulo Escola Paulista de Medicina, 04039-002, São Paulo, Brasil


Modulation of growth hormone secretion through the action of growth hormone secretagogues and ghrelin

Abstract
Growth hormone-releasing hormone and somatostatin modulate growth hormone secretion. A third mechanism has been discovered in the last decade, involving the action of growth hormone secretagogues . Ghrelin is a new acylated peptide mainly produced by the stomach, but also synthesized in the hypothalamus. This compound increases both growth hormone release and food intake. The relative roles of hypothalamic and circulating ghrelin on growth hormone secretion are still unknown. Endogenous ghrelin might amplify the basic pattern of growth hormone secretion, optimizing somatotroph responsiveness to growth hormone-releasing hormone. This peptide activates multiple interdependent intracellular pathways at the somatotroph, involving protein kinase C, protein kinase A and extracellular calcium systems. However, as ghrelin induces a greater release of growth hormone in vivo, its main site of action is the hypothalamus. In the current paper we review the available data on the discovery of this peptide, the mechanisms of action and possible physiological roles of growth hormone secretagogues and ghrelin on growth hormone secretion, and, finally, the regulation of growth hormone release in man after intravenous administration of these peptides.


Key words
ghrelin, growth hormone secretagogues


MODULAÇÃO DA SECREÇÃO DO HORMÔNIO DE CRESCIMENTO PELA GHRELINA E OUTROS SECRETAGOGOS

(especial para SIIC © Derechos reservados)
Artículo completo
Introdução

Antes da identificação do hormônio liberador do hormônio de crescimento (GHRH), Bowers e cols.1 descobriram um novo grupo de substâncias sintéticas com capacidade de liberar o hormônio de crescimento (GH).2 Estes compostos foram desenvolvidos a partir da molécula de met-encefalina e eram capazes de liberar GH, porém de forma pouco eficaz. Modificações químicas posteriores levaram ao desenvolvimento de substâncias mais potentes, como o GHRP-6, GHRP-2, hexarelina e MK-0677.2 Na última década vários estudos foram realizados com estes secretagogos de GH (GHS), especialmente com GHRP-6, e os dados obtidos sugeriram um possível papel destes compostos na modulação da secreção de GH.3 Foi demonstrado que os GHS liberam GH por mecanismos diferentes daqueles ativados pelo GHRH. Além disso, eles agem através de receptores diferentes daqueles do GHRH, somatostatina ou peptídeos opióides. Em 1996, Howard e cols.4 clonaram o receptor de GHS (GHS-R), que se localiza principalmente na hipófise anterior e no hipotálamo. Em 1999, Kojima e cols.5 descobriram, no estômago, o ligante endógeno deste receptor órfão, e este novo hormônio foi chamado de ghrelina. A ghrelina é encontrada em pequenas quantidades no hipotálamo e induz a liberação de GH de modo muito potente.5,6 Este hormônio é um novo membro da família de peptídeos cérebros-intestinais, e também está envolvido no controle do apetite, um efeito aparentemente independente da liberação de GH.7,8 Outras possíveis ações da ghrelina estão sendo atualmente investigadas. A descoberta da ghrelina é um excelente exemplo de farmacologia reversa, no qual um hormônio foi isolado a partir da síntese química de compostos como os GHS, que então levou a descoberta do receptor órfão endógeno, e finalmente ao isolamento de seu ligante natural.



Receptor dos secretagogos do hormônio de crescimento

Em 1996, Howard e cols.4 clonaram o GHS-R, que pertence à família de receptores acoplados à proteína G, com 7 domínios transmembrana e 3 alças intra e extracelulares. Existem 2 subtipos de receptores, o GHS-R1a, que é ativo, e GHS-R1b, uma isoforma menor, que aparentemente não tem atividade biológica.4 A existência de outros subtipos é bastante provável. O GHS-R1a humano tem 366 aminoácidos e é altamente conservado na evolução. Este receptor está presente na hipófise anterior e no hipotálamo, e em outras áreas do cérebro, tais como hipocampo e substância negra. Devido a sua localização, tem sido sugerido que o GHS-R possa modular ritmos biológicos, humor, memória, aprendizado e apetite.2 Na hipófise, o GHS-R foi encontrado exclusivamente nos somatotrófos, através de imunohistoquímica.2 Em camundongos knockout para o GHS-R1a, a ghrelina não é capaz de aumentar a liberação de GH ou a ingesta alimentar, o que indica que este tipo de receptor está envolvido em ambas as ações da ghrelina.9 O GHS-R1a está presente em outros tecidos, tais como pâncreas, coração, adrenal e tireóide. O GHS-R1b tem uma distribuição ampla no tecido periférico, mas a sua função ainda é desconhecida.10


Ghrelina

Em 1999 Kojima e cols. isolaram, de extratos de estômago, um peptídeo de 28 aminoácidos que possuia uma modificação (ácido n-octanoil, um ácido graxo) no 3º resíduo, que é uma serina.5 Este composto hidrofóbico, que é o primeiro peptídeo bioativo natural modificado por um ácido acil, foi chamado de ghrelina. A ghrelina e os GHS, tais como o GHRP-6, não têm similaridade estrutural. O resíduo n-octanoil é essencial para algumas de suas atividades biológicas, incluindo a liberação de GH e a estimulação do apetite. Fragmentos menores, com os primeiros 4 a 5 resíduos, com a serina acilada intacta, são também capazes de ativar a transdução de sinal de GHS R1a in vitro.7 A principal forma circulante, a ghrelina não acilada, pode ter ações não endócrinas.5 Ela é secretada principalmente no estômago e seus níveis são reduzidos em 80% após gastrectomia ou bypass gástrico em humanos.11 A ghrelina acilada atravessa a barreira hemato-encefálica, e este transporte ocorre em ambas as direções.12 O gene que codifica a ghrelina está localizado no cromossomo 3 em homens.5 Este gene codifica um precursor de 117 aminoácidos, com uma homologia de 82% entre as espécies.5 No estômago, as 2 isoformas de RNAm de prepro-ghrelina são produzidas pelo mesmo gene por splicing alternativo. Um codifica o precursor da ghrelina, enquanto o outro codifica o precursor da des - Gln 14 ghrelina, que não tem a glutamina na posição 14.5 Este peptídeo tem 27 aminoácidos e é biologicamente ativo, mas está presente em pequenas quantidades. A ghrelina está localizada na camada submucosa no fundo do estômago, nas células oxínticas endócrinas (X/A) que estão perto dos capilares e não em contato com o lúmen. Este hormônio também é encontrado, em concentrações menores, no trato gastrointestinal.7 Tanto a ghrelina como seu RNAm estão presentes no núcleo arqueado do hipotálamo e na hipófise.5,10 Na hipófise a ghrelina poderia agir de modo autócrino ou parácrino. A ghrelina é capaz de modular a transcrição de Pit1, e é expressa nos lactotrófos, somatotrófos e tireotrófos, células que são dependentes da expressão do gene Pit1 para diferenciação.8 Nos tecidos periféricos, a ghrelina tem uma distribuição ampla, e é encontrada no rim, placenta, pulmão, ovário e testículos, mas seu papel nestes tecidos ainda não foi descoberto.10 A distribuição do receptor biologicamente ativo (GHS R1a) não é a mesma que do peptídeo, portanto é provável que existam outros subtipos de receptor.10 Quantidades consideráveis de ghrelina estão presentes no sangue e este peptídeo tem várias ações além da regulação do GH.7,8 A ghrelina aumenta a ingestão alimentar pela ativação dos neurônios NPY/AGRP (proteína relacionada ao agouti) no hipotálamo, efeito oposto ao da leptina.7,8 A ghrelina promove um aumento da liberação de GH em animais e em homens, e também induz a secreção de prolactina, ACTH, cortisol e aldosterona in vivo.5,6,13,14 Este hormônio causa um aumento discreto da glicemia e redução dos níveis circulantes de insulina.14 A descoberta da ghrelina reforça o conceito de existir uma terceira via de regulação da secreção de GH, porém cujo papel fisiológico ainda permanece indeterminado.2,3,7,8


Mecanismo de ação e papel fisiológico da ghrelina e dos GHS na liberação de GH

Os GHS e a ghrelina agem tanto no hipotálamo como na hipófise para modular a secreção de GH.3,7,8 Estes peptídeos são capazes de ativar diretamente os GHS-R nas células hipofisárias in vitro.5 Quando o GHRH é associado aos GHS ou à ghrelina in vitro, uma resposta aditiva é observada na maioria dos estudos. Entretanto, quando estes peptídeos são administrados junto com o GHRH in vivo, é observado um efeito sinérgico na liberação de GH, o que indica mecanismos de ação diferentes dos GHS e do GHRH, e sugere que o principal sítio de ação dos GHS seja no hipotálamo.6,14-16 Além disso, na desconexão hipotalâmica - hipofisária há uma diminuição acentuada da liberação de GH após GHRP-6 ou ghrelina, tanto em animais como em homens.17,18 Foi demonstrado que é necessário um sistema GHRH intacto para que estas ações possam ocorrer. A administração de anticorpos contra o GHRH diminui a pulsatilidade do GH e a resposta do GH à ghrelina e aos GHS em ratos.19 A liberação de GH induzida por GHS é também inibida por um antagonista do GHRH.20 No camundongo lit/lit, que tem uma mutação no receptor de GHRH, os GHS não aumentam a liberação de GH, mas há um aumento da expressão de c-fos hipotalâmico, que é um marcador de atividade neuronal.21 A resposta do GH ao GHS está diminuída em humanos com mutação no receptor de GHRH, mas os efeitos liberadores de ACTH e prolactina estão preservados, sugerindo que estes últimos são mediados pelo hipotálamo.22 O núcleo arqueado é o alvo principal da ação da ghrelina, onde ela é capaz de se ligar e ativar o GHS-R. Foi demonstrado que os GHS e a ghrelina agem centralmente, aumentando a atividade elétrica e a expressão de c-fos em uma subpopulação de células no núcleo arqueado, algumas das quais são neurônios produtores de GHRH.21 Além disso, 1/4 destes neurônios expressam o GHS-R, sugerindo um efeito direto do GHS nestas células19 (Figura 1). A ghrelina também promove a liberação de GHRH de tecido hipotalâmico in vitro, mas isto não é observado com os GHS.23,24 Contudo, os GHS aumentam a liberação de GHRH no sistema porta hipofisário de ovelhas25. Os GHS e a ghrelina não alteram a secreção de somatostatina hipotalâmica na maioria dos estudos in vivo e in vitro.23-25 Entretanto, os GHS agem como antagonistas funcionais da somatostatina. Eles causam despolarização do somatotrófo e aumentam o número de células secretoras de GH, enquanto que a somatostatina tem efeito contrário.26








Figura 1. Modelo esquemático das possíveis interações entre GHRH, ghrelina/GHS e SRIF na hipófise e no hipotálamo (referência 60, com permissão).




Foi proposto um modelo de ação dos GHS/ghrelina, o qual envolve: 1) antagonismo funcional da somatostatina; 2) ativação dos neurônios produtores de GHRH no núcleo arqueado, levando a um aumento da liberação de GHRH; 3) amplificação do efeito do GHRH no somatotrófo2. Na hipófise, os GHS/ghrelina e o GHRH se ligam a receptores diferentes, e há evidência de cross-talk entre os dois receptores.7 Estes peptídeos também ativam diferentes vias de transdução intracelular a nível somatotrófico. O GHRH estimula o AMPc intracelular e mecanismos dependentes da proteína quinase A, enquanto que o GHRP-6 ativa a proteína quinase C, via inositol trifosfato, com um aumento nas concentrações de cálcio intracelular.2,4 Foi demonstrado, em suínos e babuínos, que a ghrelina é capaz de estimular múltiplas vias intracelulares independentes, na hipófise, envolvendo proteína quinase A, C e sistemas de cálcio extracelular, com um efeito mais amplo que a maioria dos GHS.27,28

O papel da ghrelina circulante na secreção de GH é bastante controverso. No rato, a secreção de ghrelina ocorre de modo pulsátil, sem correlação com pulsos de GH, mas em associação com ciclos de alimentação e sono.29 Também em ratos, os níveis de ghrelina circulante não se alteravam com variações dos níveis de GH.30 A imunoneutralização da ghrelina não modifica a pulsatilidade de GH, enquanto que anticorpos anti-GHRH bloqueiam completamente a liberação pulsátil de GH endógeno.31 Em humanos, a administração de um antagonista do GHRH inibe acentuadamente a secreção de GH nas 24 horas, mas não afeta os níveis circulantes de ghrelina.32 Entretanto, em ratos, a administração intracerebroventricular ou periférica de antagonistas do GHS-R1a diminui a secreção espontânea de GH, com redução da amplitude dos pulsos e dos níveis médios de GH.33-35 Uma mutação missense no GHS-R, que prejudica gravemente a ligação da ghrelina, foi associada a um caso de baixa estatura familiar.36 Em voluntários saudáveis foi mostrado que a ghrelina circulante está relacionada aos pulsos de GH, sugerindo que ela participa da modulação da secreção pulsátil de GH ou que os dois hormônios são regulados em paralelo.37 Existem dados sugerindo que a ghrelina endógena poderia amplificar o padrão básico de secreção de GH,33-35 através da otimização da responsividade do somatotrófo ao GHRH.38 Entretanto, estudos com animais knockout para a ghrelina não mostraram um efeito importante na regulação da secreção de GH.39 Ao contrário do previsto, estes animais não eram anões anoréticos. Entretanto, níveis diminuídos de GH e IGF-I foram observados em modelos transgênicos com expressão reduzida do RNAm do GHS-R no núcleo arqueado.40 Também, camundongos knockout para GHS-R apresentavam baixo peso e diminuição dos níveis de IGF-I.41 É possível que os efeitos da ghrelina na secreção de GH possam se tornar relevantes durante estados de balanço energético negativo.30 Entretanto, estudos adicionais são necessários para elucidar o papel fisiológico da ghrelina/GHS na secreção de GH.


Regulação da secreção de GH pelo GHRP-6 e pela ghrelina em humanos

O GHRP-6 e a ghrelina aumentam a liberação de GH de modo dose dependente, in vivo e in vitro, em várias espécies, inclusive no homem.1,5,6,13,16 A ghrelina é capaz de liberar GH in vitro de modo semelhante ao GHRH.5 Entretanto, in vivo, a administração endovenosa de ghrelina, na dose de 1 μg/kg, aumenta a liberação de GH de modo potente e esta resposta é maior que a obtida com o GHRH, a hexarelina e o GHRP-6.13,14,42 Este efeito não é específico já que há um aumento de prolactina, ACTH, cortisol e aldosterona.14 Após a administração endovenosa deste peptídeo ocorre um aumento dos níveis circulantes de glicose, e também uma queda dos valores de insulina.14 Quando a ghrelina ou o GHRP-6 são administrados em conjunto com o GHRH ocorre um efeito sinérgico, que é mais bem observado com baixas doses de ghrelina (0.08 μg/kg e 0.2 μg/kg).14,16 A administração combinada de GHRP-6 e GHRH é atualmente um excelente teste para o diagnóstico de deficiência de GH em adultos. Não existem diferenças na responsividade do GH ao GHRP-6 e à ghrelina quanto ao sexo, mas há uma diminuição da resposta relacionada à idade.3,15,43 Indivíduos obesos têm diminuição da resposta do GH ao GHRP-6 e à ghrelina.44,45 Há uma grande reprodutibilidade das respostas dos GHS em indivíduos normais estudados em ocasiões diferentes, diferente do observado para o GHRH. Hiperglicemia, ácidos graxos livres e somatostatina diminuem a resposta de GH induzida por GHRP-6 e ghrelina.46,47 A administração de arginina não foi capaz de alterar a responsividade do GH à ghrelina.48 O efeito dos agonistas e antagonistas colinérgicos na liberação de GH induzida por ghrelina é controverso. A piridostigmina não modificou a resposta de GH à ghrelina e ao GHRP-6.15,49 Entretanto, a atropina diminuiu esta resposta, mas a pirenzepina, um antagonista do receptor muscarínico, não alterou a liberação de GH após ghrelina.49 Estes últimos compostos apenas diminuíram a resposta do GH ao GHRP-6, mas foram capazes de abolir completamente a resposta do GH ao GHRH.15 A administração de glicocorticóides e de GH apenas diminuem a resposta do GH aos GHS.50,51 Em pacientes com doença de Cushing existe uma redução da resposta do GH ao GHRP-6 e à ghrelina52-55. Nestes pacientes, a liberação de ACTH e de cortisol induzidas por ghrelina e GHS está aumentada,54-56 o que poderia ser devido a uma ação direta destes peptídeos nos GHS-R presentes no adenoma corticotrófico, ou, talvez, à ativação da arginina vasopressina hipotalâmica e, em menor grau, do CRH.7 A administração crônica de glicocorticóides não interfere com a liberação de GH induzida por GHRP-6.53 Isto poderia indicar que o tempo de exposição ao hipercortisolismo determina a resposta do GH a estes peptídeos. Na insuficiência adrenal, a suspensão da terapia de reposição glicocorticóide por 72 horas não influencia a resposta do GH ao GHRP-6.57 Estudos por nós realizados mostraram que no hipertireoidismo ocorre uma diminuição da resposta do GH ao GHRH , enquanto que a liberação do GH induzida por GHRP-6 está inalterada ou reduzida.58 Nestes pacientes existe uma redução da resposta do GH à ghrelina.59,60 Em pacientes com diabetes mellitus tipo 1, a resposta do GH ao GHRP-6 e à hexarelina é normal ou aumentada, demonstrando que a hiperglicemia é incapaz de diminuir a liberação de GH induzida por estes peptídeos, diferente de indivíduos normais.61 Na anorexia nervosa, a liberação de GH induzida pela ghrelina está reduzida, o que é inesperado, pois estes pacientes têm altos níveis de GH e respostas aumentadas ao GHRH e aos GHS.62

A possibilidade dos GHS, especialmente os compostos ativos por via oral, poderem representar uma alternativa para o tratamento da deficiência de GH tem recebido atenção considerável. Entretanto, estas substâncias não tem efeito terapêutico superior ao tratamento com GH, apesar de serem consideradas mais fisiológicas, já que induzem a liberação de GH endógeno de forma pulsátil.


Conclusão

A ghrelina é um novo hormônio, secretado do estômago para a circulação. Entretanto, a ghrelina também é produzida no hipotálamo e em outros tecidos, com efeitos endócrinos e parácrinos. A sua modificação acil é essencial para os seus efeitos biológicos, isto é, aumento da liberação de GH e da ingestão alimentar. A contribuição da ghrelina circulante e da ghrelina hipotalâmica na secreção de GH ainda não está totalmente estabelecida. Os dados disponíveis sugerem que a ghrelina poderia ter um papel fisiológico na secreção pulsátil de GH, mas estudos adicionais são necessários para elucidar seu mecanismo de modulação da liberação de GH.
Bibliografía del artículo
1. Bowers CY, Momany FA, Reynolds GA e col. On the in vitro and in vivo activity of a new synthetic hexapeptide that acts on the pituitary to specifically release growth hormone. Endocrinology 114:1537-1545, 1984.
2. Smith RG, Van der Ploeg LHT, Howard AD e col. Peptidomimetic regulation of growth hormone secretion. Endocr Rev 18:621-645, 1997.
3. Korbonits M, Grossman A. Growth hormone-releasing peptide and its analogues -novel stimuli to growth hormone release. Trends Endocrinol Metab 6:43-49, 1995.
4. Howard AD, Feighner SD, Cully DF e col. A receptor in pituitary and hypothalamus that functions in growth hormone release. Science 273:947-977, 1996.
5. Kojima M, Hosoda H, Date Y e col. Ghrelin is a growth-hormone-releasing acylated peptide from stomach. Nature 402:656-660, 1999.
6. Arvat E, DiVito L, Broglio F e col. Preliminary evidence that ghrelin, the natural GH secretagogue (GHS)-receptor ligand, strongly stimulates GH secretion in humans. J Endocrinol Invest 23:493-495, 2000.
7. Korbonits M, Goldstone A P, Gueorguiev M e col. Ghrelin- a hormone with multiple functions. Front Neuroendocrinol 25:27-68, 2004.
8. Van der Lely AJ, Tschop M, Heiman ML e col. Biological, physiological, pathophysiological, and pharmacological aspects of ghrelin. Endocr Rev 25:426-457, 2004.
9. Sun Y, Wang P, Zheng H e col. Ghrelin stimulation of growth hormone release and appetite is mediated through the growth hormone secretagogue receptor. Proc Natl Acad Sci USA 101:4679-4684, 2004.
10. Gnanapavan S, Kola B, Bustin SA e col. The tissue distribution of the mRNA of ghrelin and subtypes of its receptor, GHS-R, in humans. J Clin Endocrinol Metab 87:2988- 2991, 2002.
11. Cummings DE, Weigle DS, Frayo RS e col. Plasma ghrelin levels after diet-induced weight loss or gastric bypass surgery. N Engl J Med 346:1623-1630, 2002.
12. Banks WA, Tschop M, Robinson SM e col. Extent and direction of ghrelin transport across the blood-brain barrier is determined by its unique primary structure. J Pharmacol Exp Ther 302:822-827, 2002.
13. Takaya K, Ariyasu H, Kanamoto N e col. Ghrelin strongly stimulates growth hormone release in humans. J Clin Endocrinol Metab 85:4908-4911, 2000.
14. Arvat E, Maccario M, DiVito L e col. Endocrine activities of ghrelin, a natural growth hormone secretagogue (GHS), in humans: comparison and interactions with hexarelin, a nonnatural peptidyl GHS, and GH-releasing hormone. J Clin Endocrinol Metab 86:1169-1174, 2001.
15. Peñalva A, Carballo A, Pombo M e col. Effect of growth hormone (GH)-releasing hormone (GHRH), atropine, pyridostigmine, or hypoglycemia on GHRP-6-induced GH secretion in man. J Clin Endocrinol Metab 76:168-171, 1993.
16. Hataya Y, Akamizu T, Takaya K e col. A low dose of ghrelin stimulates growth hormone (GH) release synergistically with GH-releasing hormone in humans. J Clin Endocrinol Metab 86:4552-4555, 2001.
17. Popovic V, Damjanovic S, Micic D e col. Blocked growth hormone-releasing peptide (GHRP-6)-induced GH secretion and absence of the synergic action of GHRP-6 plus GH-releasing hormone in patients with hypothalamopituitary disconnection: evidence that GHRP-6 main action is exerted at the hypothalamic level. J Clin Endocrinol Metab 80:942-947, 1995.
18. Popovic V, Miljic D, Micic D e col. Ghrelin main action on the regulation of growth hormone release is exerted at hypothalamic level. J Clin Endocrinol Metab 88:3450-3453, 2003.
19. Tannenbaum GS, Bowers CY. Interactions of growth hormone secretagogues and growth hormone-releasing hormone/ somatostatin. Endocrine 14:21-27, 2001.
20. Pandya N, Mott-Friberg R, Bowers CY e col. Growth hormone (GH)-releasing peptide-6 requires endogenous hypothalamic GH-releasing hormone for maximal GH stimulation. J Clin Endocrinol Metab 83:1186-1189, 1988.
21. Dickson SL, Doutrelant -Viltart O, Leng G. GH-deficient dw/dw rats and lit/lit mice show increased Fos expression in the hypothalamic arcuate nucleus following systemic injection of GH-releasing peptide-6. J Endocrinol 146:519-526, 1995.
22. Maheshwari H, Rahim A, Shalet SM e col. Selective lack of growth hormone (GH) response to the GH-releasing peptide hexarelin in patients with GH-releasing hormone receptor deficiency. J Clin Endocrinol Metab 84:956-959, 1999.
23. Wren AM, Small CJ, Fribbens CV e col. The hypothalamic mechanisms of the hypophysiotropic action of ghrelin. Neuroendocrinology 76:316-324, 2002.
24. Korbonits M, Little JA, Forsling ML e col. The effect of growth hormone secretagogues and neuropeptide Y on hypothalamic hormone release from acute rat hypothalamic explants. J Neuroendocrinol 11:521-528, 1999.
25. Guillaume V, Magnan E, Cataldi M e col. Growth hormone (GH)-releasing hormone secretion is stimulated by a new GH-releasing hexapeptide in sheep. Endocrinology 135:1073-1076, 1994.
26. Goth MI, Lyons CE, Canny BJ e col. Pituitary adenylate cyclase activacting polypeptide, growth hormone (GH)-releasing peptide and GH-releasing hormone stimulate GH release through distinct pituitary receptors. Endocrinology 130:939-944, 1992.
27. Malagon MM, Luque RM, Ruiz-Guerrero E e col. Intracellular signaling mechanisms mediating ghrelin-stimulated growth hormone release in somatotropes. Endocrinology 144:5372-5380, 2003.
28. Kineman RD, Luque RM. Evidence that ghrelin is as potent as growth hormone (GH)- realising hormone (GHRH) in realising GH from primary pituitary cell cultures of a nonhuman primate (Papio anubis), acting through intracellular signaling pathways distinct from GHRH. Endocrinology 148:4440-4449, 2007.
29.Tolle V, Bassant MH, Zizzari P e col. Ultradian rhythmicity of ghrelin secretion in relation with GH, feeding behavior, and sleep-wake patterns in rats. Endocrinology 143:1353-1361, 2002.
30. Okimura Y, Ukai K, Hosoda H e col. The role of circulating ghrelin in growth hormone (GH) secretion in freely moving male rats. Life Sci 72:2517-2524, 2003.
31. Tannenbaum GS, Epelbaum J, Bowers CY. Interrelationship between the novel peptide ghrelin and somatostatin/growth hormone-releasing hormone in regulation of pulsatile growth hormone secretion. Endocrinology 144:967-974, 2003.
32. Barkan AL, Dimaraki EV, Jessup SK e col. Ghrelin secretion in humans is sexually dimorphic, suppressed by somatostatin, and not affected by the ambient growth hormone levels. J Clin Endocrinol Metab 88:2180-2184, 2003.
33. Halem HA, Taylor JE, Dong JZ ecol. Novel analogs of ghrelin: physiological and clinical implications. Eur J Endocrinol 151(Suppl.1):S71-S75, 2004.
34. Zizzari P, Halem H,Taylor J e col. Endogenous ghrelin regulates episodic growth hormone (GH) secretion by amplifying GH pulse amplitude: evidence from antagonism of the GH secretagogue-R1a receptor. Endocrinology 146:3836-3842, 2005.
35. Tannenbaum GS, Samia M, Chen Q e col. Antagonism of the growth hormone secretagogue receptor unmasks a role for ghrelin in maintaining high GH pulse amplitude under physiological conditions. Endo Soc 87th Ann Meet San Diego,USA, June 4-7, 2005.
36. Pantel J, Legendre M, Cabrol S et col. Loss of constitutive activity of the growth hormone secretagogue receptor in familial short stature. J Clin Invest 116:760-768, 2006.
37. Koutkia P, Canavan B, Breu J e col. Nocturnal ghrelin pulsatility and response to growth hormone secretagogues in healthy men . Am J Physiol Endocrinol Metab 287:E506-E512, 2004.
38. Kamegai J, Tamura H, Shimizu T e col. The role of pituitary ghrelin in growth hormone (GH) secretion: GH-releasing hormone-dependent regulation of pituitary ghrelin gene expression and peptide content. Endocrinology 145:3731-3738, 2004.
39. Sun Y, Ahmed S, Smith RG .Deletion of ghrelin impairs neither growth nor appetite. Mol Cell Biol 23:7973-7981, 2003.
40. Shuto Y, Shibasaki T, Otagiri A e col. Hypothalamic growth hormone secretagogue receptor regulates growth hormone secretion, feeding, and adiposity. J Clin Invest 109:1429-1436, 2002.
41. Sun Y, Wang P, Zheng H e col. Ghrelin stimulation of growth hormone release and appetite is mediated through the growth hormone secretagogue receptor. Proc Natl Acad Sci USA 101:4679-4684, 2004.
42. Peino R, Baldelli R, Rodriguez-Garcia J e col. Ghrelin-induced growth hormone secretion in humans. Eur J Endocrinol 143:R11-R14, 2000.
43. Broglio F, Benso A, Castiglioni C e col. The endocrine response to ghrelin as a function of gender in humans in young and elderly subjects. J Clin Endocrinol Metab 88:1537-1542, 2003.
44. Cordido F, Penalva A, Dieguez C e col. Massive growth hormone (GH) discharge in obese subjects after the combined administration of GH-releasing hormone and GHRP-6: evidence for a marked somatotroph secretory capability in obesity. J Clin Endocrinol Metab 76:819-823, 1993.
45. Tassone F, Broglio F, Destefanis S e col. Neuroendocrine and metabolic effects of acute ghrelin administration in human obesity. J Clin Endocrinol Metab 88:5478-5483, 2003.
46. Maccario M, Arvat E, Procopio M e col. Metabolic modulation of the growth hormone-releasing activity of hexarelin in man. Metabolism 44:134-138, 1995.
47. Di Vito L, Broglio F, Benso A e col. The GH-releasing effect of ghrelin, a natural GH secretagogue, is only blunted by the infusion of exogenous somatostatin in humans. Clin Endocrinol 56:643-648, 2002.
48. Broglio F, Benso A, Gottero C e col. Effects of glucose, free fatty acids or arginine load on the GH-releasing activity of ghrelin in humans. Clin Endocrinol 57:265-271, 2002.
49. Maier C, Schaller G, Buranyi B e col. The cholinergic system controls ghrelin release and ghrelin-induced growth hormone release in humans. J Clin Endocrinol Metab 89:4729-4733, 2004.
50. Gertz BJ, Sciberras DG, Yogendran L e col. L-692,429, a nonpeptide growth hormone (GH) secretagogue, reverses glucocorticoid suppression of GH secretion. J Clin Endocrinol Metab 79:745-749, 1994.
51. Arvat E, DiVito L, Gianotti L e col. Mechanisms undelying the negative growth hormone (GH) autofeedback on the GH-releasing effect of hexarelin in man. Metabolism 46:83-88, 1997.
52. Leal-Cerro A, Pumar A, Garcia-Garcia E e col. Inhibition of growth hormone release after the combined administration of GHRH and GHRP-6 in patients with Cushing's syndrome. Clin Endocrinol 41:649-654, 1994.
53. Borges MH, DiNinno FB, Lengyel AM. Different effects of growth hormone releasing peptide (GHRP-6) and GH-releasing hormone on GH release in endogenous and exogenous hypercortisolism. Clin Endocrinol 46:713-718, 1997.
54. Leal-Cerro A, Torres E, Soto A e col. Ghrelin is no longer able to stimulate growth hormone secretion in patients with Cushing's syndrome but instead induces exaggerated corticotropin and cortisol responses. Neuroendocrinology 76:390-396, 2002.
55. Correa-Silva SR, Nascif SO, Lengyel AMJ. Decreased GH secretion and enhanced ACTH and cortisol release after ghrelin administration in Cushing's disease: comparison with GH- releasing peptide -6 (GHRP-6) and GHRH. Pituitary 9:101-107, 2006.
56. Arvat E, Giordano R, Ramunni J e col. Adrenocorticotropin and cortisol hyperresponsiveness to hexarelin in patients with Cushing's disease bearing a pituitary microadenoma, but not in those with macroadenoma. J Clin Endocrinol Metab 83:4207-4211, 1998.
57. Pinto AC, Silva MR, Martins MR e col. Effects of short-term glucocorticoid deprivation on growth hormone (GH) response to GH-releasing peptide-6: studies in normal men and in patients with adrenal insufficiency. J Clin Endocrinol Metab 85:1540-1544, 2000.
58. Ramos-Dias JC, Pimentel-Filho F, Reis A F e col. Different growth hormone (GH) response to GH-releasing peptide and GH-releasing hormone in hyperthyroidism .J Clin Endocrinol Metab 81:1343-1346, 1996.
59. Nascif SO, Correa-Silva SR, Silva MR e col. Decreased ghrelin- induced GH release in thyrotoxicosis: comparison with GH- realising peptide-6 (GHRP-6) and GHRH. Pituitary 10:27-33, 2007.
60. Lengyel AMJ. From growth hormome- realising peptides to ghrelin: discovery of new modulators of GH secretion. Arq Bras Endocrinol Metab 50:17-24, 2006.
61. Weffort RFVB, Ramos-Dias JC, Chipoch C e col. Growth hormone (GH) response to GH-releasing peptide-6 in patients with insulin-dependent diabetes mellitus. Metabolism 46:706-710, 1997.
62. Broglio F, Gianotti L, Destefanis S e col. The endocrine response to acute ghrelin administration is blunted in patients with anorexia nervosa, a ghrelin hypersecretory state. Clin Endocrinol 60:592-599, 2004.

© Está  expresamente prohibida la redistribución y la redifusión de todo o parte de los  contenidos de la Sociedad Iberoamericana de Información Científica (SIIC) S.A. sin  previo y expreso consentimiento de SIIC
anterior.gif (1015 bytes)

Bienvenidos a siicsalud
Acerca de SIIC Estructura de SIIC


Sociedad Iberoamericana de Información Científica (SIIC)
Mensajes a SIIC

Copyright siicsalud© 1997-2024, Sociedad Iberoamericana de Información Científica(SIIC)