DIFERENÇAS NO METABOLISMO DE ADOLESCENTES DO (DEL) SEXO FEMININO E MASCULINO COM DOENÇA (ENFERMEDAD) GORDUROSA DO FÍGADO (HÍGADO) DE CAUSA NÃO ALCÓOLICA, DETECTADA POR ULTRA-SOM - Red Científica Iberoamericana (RedCIbe)

Red Científica Iberoamericana

DIFERENÇAS NO METABOLISMO DE ADOLESCENTES DO (DEL) SEXO FEMININO E MASCULINO COM DOENÇA (ENFERMEDAD) GORDUROSA DO FÍGADO (HÍGADO) DE CAUSA NÃO ALCÓOLICA, DETECTADA POR ULTRA-SOM

Maria Teresa Bechere Fernandes
Dra.Médico, Universidade Federal De São Paulo, São Paulo, Brasil

São Paulo, Brasil (SIIC)

As adolescentes com doença gordurosa do fígado de causa não alcóolica (DGFCNA) mostraram um comportamento metabólico diferente dos meninos. Futuros estudos podem aprofundar o papel das diferenças metabólicas existentes entre os sexos na gênese da DGFCNA.

A doença gordurosa do fígado de causa não alcoólica (DGFCNA) tem sido considerada a maior causa de doença crônica do fígado em crianças e adolescentes obesos. A idade, desenvolvimento puberal e sexo são fatores de risco para DGFCNA. O objetivo foi identificar variáveis clínicas ou laboratoriais que possuam comportamento diferente em relação ao sexo em adolescentes com DGFCNA.

Os adolescentes obesos foram identificados entre os escolares de uma escola pública do Embu ou em ambulatórios de assistência primária em pediatria (consultas de rotina) do Embu e Taboão da Serra, cidades da periferia de São Paulo. Os critérios de inclusão deste estudo foram a presença de Índice de Massa Corporal maior que o percentil 95 (NCHS) e idade entre 10 e 19 anos. Os critérios de exclusão deste estudo foram a presença de doenças endocrinológicas ou neurológicas associadas à obesidade e hepatites. A DGFCNA foi detectada através do método radiológico de Ultra-Som. O número total de participantes foi de 90 (36 meninos e 54 meninas). Em todos os adolescentes foi realizada uma avaliação clínica e laboratorial.

Foram estudadas as variáveis que mostraram associação estatística com DGFCNA na regressão logística univariada. Utilizou-se o teste de Mantel-Haenszel controlado para idade, desenvolvimento puberal e nível de escolaridade.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de São Paulo. O consentimento, por escrito, foi obtido dos pais dos adolescentes antes de se iniciar a pesquisa (#0221/03).

A prevalência de DGFCNA na amostra deste estudo (n = 90) foi de 15,5%. A idade média do grupo foi de 13.1 anos, sendo 40% da amostra meninos e 60% meninas.

O percentual de meninos e meninas com DGFCNA foi de 19.5% e 13.0%, respectivamente. A idade média dos meninos com e sem DGFCNA foi de 13.55 (2.14 SD) versus 12.48 anos (2.05 SD p = 0.23). A idade média das meninas com e sem DGFCNA foi de 16.15 (2.86 SD) versus 12.99 anos (2.03 SD p = 0.01).

Em relação ao estadiamento puberal 86% dos meninos com DGFCNA encontravam-se no início da puberdade (P2G2 e P3G3) ao contrário do observado com as meninas, as quais 86% encontravam-se em estadios mais avançados (P4M4 e P5M5). Não se detectou diferenças estatísticas entre os grupos com e sem DGFCNA no que se refere ao desenvolvimento pubertário.

Todas as variáveis clínico-laboratoriais foram testadas entre os grupos de meninos e meninas com e sem DGFCNA e as análises iniciais revelaram diferenças estatísticas apenas entre os grupos de meninas com e sem DGFCNA para os seguintes parâmetros: gordura visceral (meninas com DGFCNA = 4.38 cm x sem DGFCNA = 3.33 cm p = 0.01); ALT (meninas com DGFCNA = 28.00 x sem DGFCNA = 21.12 p = 0.01); GGT (meninas com DGFCNA = 30.85 x sem DGFCNA = 19.14 p = 0.003); triglicérides (71.5% das meninas com DGFCNA possuíam triglicérides aumentado x 21.5% das meninas sem DGFCNA p = 0.01); colesterol e LDL colesterol (57% das meninas com DGFCNA apresentaram colesterol aumentado x 6.5% das meninas sem DGFCNA p = 0.01).

Os resultados da regressão logística multivariada, ajustada para idade, desenvolvimento puberal e nível de escolaridade mostraram que adolescentes com DGFCNA, quando avaliada a gordura visceral, possuem uma chance 2.8 vezes maior de apresentarem a medida da gordura visceral no tercil superior. Em relação às enzimas ALT e GGT, os adolescentes com DGFCNA têm uma chance de 2.9 e 4.1 vezes superior de apresentarem a ALT e a GGT nos tercis mais elevados, respectivamente. E, por fim, adolescentes com DGFCNA possuem uma chance 4.2 vezes maior de apresentarem triglicérides superior a 131 mg/dl, uma chance 2.72 vezes maior para colesterol superior a 200 mg/dl e uma chance 2.58 vezes superior de apresentarem colesterol LDL maior que 130 mg/dl.

Utilizamos o teste de Mantel-Haenszel (ajustado para idade, desenvolvimento puberal e nível de escolaridade) para as variáveis que mostraram associação estatística com DGFCNA na regressão logística univariada. Observamos que as variáveis colesterol e colesterol LDL apresentaram interação com sexo, ou seja, houve uma diferença estatística significante nos valores dessas variáveis entre o sexo feminino e masculino. As adolescentes com DGFCNA possuem uma chance 6.99 vezes superior de apresentarem colesterol aumentado versus 1,2 para os meninos. E para o colesterol LDL a chance é de 8.15 para as meninas e 1.26 para os meninos.

Os resultados deste trabalho mostram que as variáveis colesterol e colesterol LDL são importantes marcadores de DGFCNA para as meninas, não ocorrendo o mesmo para os meninos. Nós hipotizamos que os mecanismos fisiopatológicos são diferentes entre meninos e meninas com DGFCNA. Os marcadores habitualmente encontrados como preditores de DGFCNA podem ser importantes para as meninas durante a puberdade, porém para os meninos esses mesmos marcadores podem não estar associados à presença de DGFCNA.

Os hormônios sexuais podem ter um importante papel no desencadeamento da DGFCNA nos meninos. Para as meninas os fatores relacionados à Síndrome Metabólica, como a dislipidemia, são determinantes para o desencadeamento da DGFCNA.

Novos estudos devem buscar essas diferenças entre o metabolismo feminino e masculino na gênese da DGFCNA.



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